sábado, 17 de dezembro de 2011

O cigarro


Foi sancionada nesta quinta-feira (15/12) pela presidente Dilma Rousseff (PT) a lei que proíbe o fumo em locais fechados em todo o Brasil. A determinação vale para espaços públicos e privados.


Leia trecho de "Folha Explica: O Cigarro" escrito por Mario Cesar Carvalho. O livro conta a história da indústria tabagista e relata os artifícios usados para manipular a opinião pública.

Fraude, corrupção e mentiras
[...] O principal argumento de ataque ao cigarro é a defesa da saúde pública. Como a música dos comerciais de cigarro, os números usados para aquilatar o tamanho do desastre também são grandiloqüentes:
- O cigarro matou mais no século 20 que todas as guerras somadas: foram 100 milhões de vítimas, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
- O fumo mata 3,5 milhões de pessoas no mundo ao ano, número superior à soma das mortes provocadas pelo vírus da Aids, pelos acidentes de trânsito, pelo consumo de álcool, cocaína e heroína e pelo suicídio.
- No Brasil, todo ano, morrem 80 mil pessoas de doenças relacionadas ao fumo, quase o dobro das vítimas de homicídio no país.
- O cigarro é o maior causador de mortes evitáveis na história da humanidade.
- O futuro pode ser ainda mais tenebroso. Se os padrões de consumo continuarem inalterados no século 21, o cigarro deverá matar dez vezes mais que no século passado: um bilhão de pessoas, segundo projeção do Banco Mundial e da OMS. Em 2020, as mortes por ano deverão atingir a casa dos 10 milhões, se nada mudar até lá.
Para retratar com mais precisão o tabagismo, elevado à categoria de doença pela OMS a partir de 1992, os médicos colocaram em circulação um termo reservado para ocasiões muito especiais: pandemia, ou epidemia generalizada. O cigarro gerou a maior pandemia da história, na definição da OMS: 1,1 bilhão de pessoas fuma, o equivalente a um terço da população adulta do mundo.
Ataques contra o fumo existem desde que ele chegou à Europa, no final do século 15, para onde foi levado pelas mãos de um capitão da equipagem de Cristóvão Colombo, d. Rodrigo de Xeres, que desembarcara na América em 1492. Que o tabaco faz mal já se sabe desde o século 18, pelo menos.
A novidade que catalisou os ataques foi um cruzamento inédito de fatos, comportamentos e descobertas, ocorrido no final do século 20. Ao brutal consenso científico de que o cigarro causa pelo menos meia centena de doenças, somaram-se uma obsessão com o corpo e com a saúde jamais vista e a descoberta de que a indústria do tabaco cometeu uma sucessão de fraudes, propagou mentiras com ares de controvérsia científica e enganou os consumidores num nível provavelmente inédito na história do capitalismo.
A satanização do fumo não ocorreu por acaso no final do século 20. O puritanismo dominante na sociedade americana e sua repulsa a todo e qualquer tipo de prazer receberam uma chancela científica ao ter escolhido o cigarro como alvo. Não é um prazer qualquer que está na mira - é um prazer que mata. Um puritano jamais conseguirá entender uma das definições de Cícero (106-43 a.C.) para a felicidade: "Vive-se bem quando se é capaz de desprezar a morte".
*
No Folha.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário