Foi sancionada nesta quinta-feira (15/12) pela presidente
Dilma Rousseff (PT) a lei que proíbe o fumo em locais fechados em todo o
Brasil. A determinação vale para espaços públicos e privados.
Leia trecho de "Folha Explica: O Cigarro" escrito por Mario Cesar Carvalho. O livro conta a história da indústria
tabagista e relata os artifícios usados para manipular a opinião pública.
Fraude, corrupção e
mentiras
[...] O principal argumento de ataque
ao cigarro é a defesa da saúde pública. Como a música dos comerciais de
cigarro, os números usados para aquilatar o tamanho do desastre também são
grandiloqüentes:
- O cigarro matou mais no século 20 que
todas as guerras somadas: foram 100 milhões de vítimas, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS).
- O fumo mata 3,5 milhões de pessoas no
mundo ao ano, número superior à soma das mortes provocadas pelo vírus da Aids,
pelos acidentes de trânsito, pelo consumo de álcool, cocaína e heroína e pelo
suicídio.
- No Brasil, todo ano, morrem 80 mil
pessoas de doenças relacionadas ao fumo, quase o dobro das vítimas de homicídio
no país.
- O cigarro é o maior causador de
mortes evitáveis na história da humanidade.
- O futuro pode ser ainda mais
tenebroso. Se os padrões de consumo continuarem inalterados no século 21, o
cigarro deverá matar dez vezes mais que no século passado: um bilhão de
pessoas, segundo projeção do Banco Mundial e da OMS. Em 2020, as mortes por ano
deverão atingir a casa dos 10 milhões, se nada mudar até lá.
Para retratar com mais precisão o
tabagismo, elevado à categoria de doença pela OMS a partir de 1992, os médicos
colocaram em circulação um termo reservado para ocasiões muito especiais:
pandemia, ou epidemia generalizada. O cigarro gerou a maior pandemia da
história, na definição da OMS: 1,1 bilhão de pessoas fuma, o equivalente a um
terço da população adulta do mundo.
Ataques contra o fumo existem desde que
ele chegou à Europa, no final do século 15, para onde foi levado pelas mãos de
um capitão da equipagem de Cristóvão Colombo, d. Rodrigo de Xeres, que
desembarcara na América em 1492. Que o tabaco faz mal já se sabe desde o século
18, pelo menos.
A novidade que catalisou os ataques foi
um cruzamento inédito de fatos, comportamentos e descobertas, ocorrido no final
do século 20. Ao brutal consenso científico de que o cigarro causa pelo menos
meia centena de doenças, somaram-se uma obsessão com o corpo e com a saúde
jamais vista e a descoberta de que a indústria do tabaco cometeu uma sucessão
de fraudes, propagou mentiras com ares de controvérsia científica e enganou os
consumidores num nível provavelmente inédito na história do capitalismo.
A satanização do fumo não ocorreu por
acaso no final do século 20. O puritanismo dominante na sociedade americana e
sua repulsa a todo e qualquer tipo de prazer receberam uma chancela científica
ao ter escolhido o cigarro como alvo. Não é um prazer qualquer que está na mira
- é um prazer que mata. Um puritano jamais conseguirá entender uma das
definições de Cícero (106-43 a.C.) para a felicidade: "Vive-se bem quando
se é capaz de desprezar a morte".
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No Folha.com
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