O presente estudo teve como
objetivo destacar os princípios básicos para o tratamento cosmético da acne
vulgar numa perspectiva direcionada aos profissionais da estética facial,
facilitando desta forma a elaboração e aplicação de protocolos para o
tratamento da acne.
Para
que o profissional de estética facial possa montar um protocolo personalizado
para o tratamento da acne é preciso conhecer e identificar os tipos de lesões
presentes na pele do portador e a fase do desenvolvimento da mesma.
A acne é a mais comum das doenças crônicas do folículo pilossebáceo da pele humana, afeta principalmente os adolescentes pela
alteração hormonal que ocorre nesse período da vida, levando ao surgimento de
lesões de acne na pele do portador. Causada por múltiplos fatores e que leva
ao aparecimento de algumas lesões características. Podem
ser apontados quatro pontos fundamentais como responsáveis para o
desenvolvimento da acne: hipersecreção sebácea; hiperqueratinização folicular;
colonização
bacteriana e a conseqüente inflamação folicular e dérmica subjacente.
Do
ponto de vista clínico a acne classifica-se em não-inflamatória e inflamatória,
de acordo com o tipo de lesão predominante. As lesões clínicas da acne não
inflamatória se subdividem em microcomedões, comedões abertos e fechados; já as
lesões da acne inflamatória são as pápulas, pústulas, e as lesões mais graves
são os cistos e nódulos.
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Acne grau 1 |
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Acne grau 2 |
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Acne grau 3 |
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Acne grau 4 |
Classificar
a acne é importante, pois determina a escolha do protocolo estético
personalizado ideal que atue nas diversas formas de apresentação das lesões e
em todas as fases do desenvolvimento das mesmas. O tratamento
da acne deve ser ajustado individualmente, de acordo com as características da
pele do acometido, para que se alcance
o resultado desejado.
Seqüência para elaboração de protocolos
de tratamento da acne
O
primeiro passo é preencher a ficha de avaliação, que tem por objetivos coletar
informações sobre os hábitos de vida do cliente, possíveis contra indicações do
tratamento, além de caracterizar o tipo de pele.Essa
avaliação clinica deverá ser a mais completa possível, pois as informações
colhidas nesta entrevista possibilitarão que o profissional da estética estabeleça
um plano de tratamento personalizado a partir da seleção da terapêutica
adequada.
Os
princípios básicos para montar um protocolo de tratamento da acne vulgar devem
ser ajustados individualmente obedecendo alguns passos que serão destacadas a
seguir.
1. Higienizar
A
seqüência dos tratamentos estéticos inicia com a aplicação do higienizante que
tem por função emulsionar o material gorduroso, impurezas ou detritos,
removendo-os em seguida. Aplica-se o
higienizante com os dedos, em movimentos circulares, e retira-se com algodão
embebido em água.
Os
cosméticos higienizantes indicados para pele acneica devem possuir princípios
ativos que atuem na hipersecreção
sebácea, fator fundamental no desenvolvimento da acne,
inibindo a secreção do sebo sem irritar a glândula consequentemente reduzindo a
oleosidade.
Após
a higienização, é necessário esfoliar a pele para refinar a camada córnea com o
objetivo de facilitar os procedimentos seguintes.
2. Esfoliar
Os
esfoliantes cosméticos podem ser classificados em químicos, físicos/mecânicos e
enzimáticos. Os produtos cosméticos esfoliantes atuam muito superficialmente,
ou seja, na camada córnea sem atingir a epiderme e a derme.
A
esfoliação química consiste na aplicação de um ou mais agentes
esfoliantes/queratolíticos na pele, que podem ser substâncias sintéticas ou
vegetais, geralmente ácidos orgânicos. Dependendo do tipo de esfoliante
químico, concentração do ativo e de seu pH, o procedimento pode deixar de ser
muito superficial, que atinge apenas a camada córnea, e se tornar um peeling
médio ou profundo que pode atingir até a derme reticular.
Já a
esfoliação física/mecânica utiliza substâncias abrasivas para o refinamento da
camada córnea. Age por atrito da ação mecânica provocada pela pressão entre a
pele e as mãos. Neste caso o produto pode ser veiculado em creme, gel e
gel-creme. Os esfoliantes que atuam
nesse mecanismo podem ser naturais de origem vegetal, mineral, marinha,
derivados orgânicos sintéticos, formadores de filme e carboidratos.
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Esfoliação física |
A
esfoliação enzimática é definida como uma esfoliação realizada pela ação de
enzimas que hidrolisam proteínas da camada córnea da pele (queratina),
facilitando assim a remoção de camadas superficiais de corneócitos. As enzimas
mais utilizadas são papaínas, extraída do mamão, e a bromelina, extraída do abacaxi.
Para
cada grau de acne há indicações específicas de esfoliação em casos de acne
moderada a grave, deve-se evitar a esfoliação física para não agravar o quadro
clínico, pois no ato da esfoliação pode ocorrer ruptura das pápulas e pústulas,
havendo riscos de infectar glândulas sebáceas e folículos não acometidos.
3. Emoliência
Se o objetivo do
procedimento é fazer uma higienização com retirada de comedões, aplica-se em
seguida o emoliente, que em cosmetologia, são substâncias alcalinas.
O princípio ativo mais
utilizado é a trietanolamina, que descontrae, amolece e suaviza a camada
superficial da epiderme (córnea), dilatando os poros e facilitando o processo
de extração, porém, podem ser associados outros emolientes.
Os cremes amolecedores ou a
loção emoliente pode ser associado ao vapor de ozônio, e/ou filme osmótico por
aproximadamente 15 minutos.
Vale lembrar que a emoliência e extração são etapas
que podem ser necessárias ou não, depende de que forma a pele do cliente se
apresenta.
4. Extração
Após a emoliência inicia-se
o processo de extração mecânica das lesões, procedimento este exclusivo do
profissional de estética. Para cada tipo de lesão há uma técnica adequada. A
extração manual é indicada para microcomedões e comedões abertos. O extrator só
é indicado em locais de difícil realização de manobra manual.
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Extração manual |
Para facilitar a retirada do
conteúdo dos comedões fechados (massa esbranquiçada), é indicado o uso da
agulha de insulina de forma superficial, somente para facilitar a retirada do
conteúdo sólido, impedindo desta forma, a evolução para uma lesão inflamatória.
Em casos de pústulas é
aconselhado exercer uma leve pressão sobre o local, drenando o conteúdo
purulento, facilitando o esvaziamento da lesão. As lesões internas como a
pápula, nódulo e o cisto não deve ser manipuladas.
5.
Equilíbrio do pH cutâneo
A etapa seguinte compreende
o equilíbrio do pH da pele, o qual foi alterado pelo uso da substância
amolecedora e dos outros cosméticos. O produto cosmético que tem essa
capacidade é o tônico, que além de equilibrar o pH, complementa a limpeza e retira
os últimos vestígios de impurezas da pele. Conhecer o pH dos produtos a serem
utilizados é de extrema importância, pois a partir da obtenção dessa informação
é que poderá ser feita a escolha apropriada do produto a ser utilizado, assim
variando de acordo com a função e utilização de cada cosmético.
Esse produto cosmético
veiculado em forma de tônicos deve promover a sensação de frescor e bem-estar,
sem irritar a pele, nem sensibilizá-la. A propósito, importa salientar que a
literatura não relata qual o pH ideal para os produtos cosméticos destinados à
tonificação em contrapartida os autores descrevem que a maioria dos produtos
cosméticos deve ter como pH ideal o mais próximo ao da pele, para que não
ocorram modificações nos mecanismos de defesa.
Dependendo dos constituintes,
os tônicos poderão ter funções específicas como hidratantes, adstringentes,
calmantes, anti-sépticos entre outros.
6.
Tratamento
Os PA utilizados nessa etapa
terão uma função específica e muito importante. Neste momento a apresentação do
cosmético mais utilizado é em forma de máscara, que atuará na pele por um bom
tempo e facilitará a permeação.
As máscaras faciais são
definidas como formulações cosméticas, destinadas a aplicação na face, em
camada mais ou menos espessa, por período de tempo determinado, podendo variar
de 10 a 30 minutos, dependendo da
composição química e as ações pretendidas.
Segundo a legislação
brasileira, as máscaras faciais são enquadradas na categoria de produtos
cosméticos “destinados a limpar, amaciar, estimular ou refrescar a pele,
constituídas essencialmente de substâncias coloidais ou argilosas que,
aplicadas sobre o rosto, devem sofrer endurecimento para posterior remoção”.
Na finalização dos
procedimentos em pele acneica, serão selecionadas máscaras específicas para
acne não inflamatória e acne inflamatória, as máscaras mais utilizadas são as
que contem princípios ativos cicatrizantes, antiinflamatórios, descongestionantes,
anti-sépticos, adstringentes, anti-seborréicos, absorventes e/ou adsorventes.
As máscaras com propriedades
hidratantes têm por função repor à pele substâncias fundamentais para manter a
água na camada córnea. Podem ser aditivas com substâncias hidratantes ativas
e/ou umectantes.
7.
Finalização
A escolha do produto
cosmético finalizador dependerá de como a pele se apresenta no momento, sendo
que este deverá ser escolhido de forma correta para evitar reações adversas,
pois este produto permanecerá na pele do cliente.
Há uma variedade de produtos
cosméticos destinados a finalização do procedimento de tratamento da acne,
entre eles pode-se citar os que possuem propriedades secativas, cicatrizantes
que complementarão o tratamento. Após a
aplicação do cosmético finalizador, há sempre a necessidade do uso de protetor
solar. No mercado cosmético os
protetores solares indicados para pele acneica são veiculados na forma de géis,
loções livres de óleo, soluções contendo filtros solares que conferem proteção
dos raios Ultravioleta A e B.
O portador de acne deve
reduzir sua exposição às radiações solares, pois essa em excesso causa um
espessamento da camada córnea facilitando a obstrução do folículo pilosebáceo,
contribuindo assim, para o agravamento da acne.
Há a necessidade de
conscientizar o cliente sobre a importância de seu comprometimento ao
tratamento e a utilização de cosméticos diariamente (home care) para se obter
um resultado satisfatório.
Os procedimentos de estética
facial devem ser executado por profissionais qualificados, seguindo as normas
de Biossegurança, afim de minimizar os riscos biológicos provenientes desta
atividade. Mas esse é assunto para outro post...
É importante salientar ainda, que em alguns casos, o uso de terapêutica
medica é necessário, visto a gravidade das lesões, nesse sentido o profissional
deve ficar atento para indicar ao seu cliente a procura de um médico
dermatologista.
Este texto é parte do Trabalho
de Iniciação Científica desenvolvido pelas acadêmicas Luíza Hochheim e Priscila
Caron Dalcin do curso de Cosmetologia e Estética Univali – BC.
Abraços
Fá Piazza